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O demo me leve
domingo, março 26, 2006
  Os Raios N

Vai uns meses falava da mala praxe que evidenciou o caso do doutor Hwang Woo-suk . Nestes casos é difícil saber se intençom inicial do investigador era estafar aos seus colegas e a toda a comunidade científica mundial, ou bem a sua investigaçom comezou dum jeito honesto e viuse arrastrada ate o timo integral para cumprires as espetativas da sua universidade e do seu laboratorio. A Ciência, e nom falo daquela convertida num produto industrial ao serviço das empresas, muitas veces queda supeditada a cumprires as anelas pessoais dos investigadores ou a obter a sempre escasa financiaçom. Se nom há resultados palpaveis que agitar coma cebo para mais inversom o investigador pode dar por morto o seu trabalho, e muitos estám dispostos a sacrificares a honradez dos seus projectos em prol da sua continuaçom. Também som muitos os "divos" neste mundo, aqueles que nom duvidam em arranxar e "inclinar" os resultados para coleccionar artigos nas publicaçons especializadas.

Mais há casos nos que um cientifico frauda aos científicos, a mentes senlheiras da sua época, a meio mundo e mesmo a propio investigador . Um dos maiores casos de auto-engano que se lembram na história é o dos "Raios N". Penso que é mui recomendavel para os cientificos, e para os futuros científicos coma eu, ter serpre presente o perigo que representa pôr diante o cumprimento da teoria, coa que sempre temos umha relaçom pessoal, que os resultados experimentais. Ainda que hoje a Filosofia da Ciência vai por vieiros bem distintos o procedemento da Falseabilidade segue a ser o coraçom da praxis da Ciência. Nom se desenham experiências para afirmar as teorias com mais datos favoraveis, construense para "ponhelas em perigo". Essa é a diferência entre as pseudociências e as Ciências de verdade: Nom há apego, ou nom deberia haber, à teoria coa que se trabalha e observam-se os resultados com frialdade. E isso é o que nom figo Rene Blondlot e muitos dos seus contemporaneos: A teoria era demasiado bonita e prometia tantas vantages para a Humanidade que falsa-la era duro de mais.

Retrocedamos a finais do século XIX: Röntgen decubria os Raios X em 1895. Umha "radiaçom milagreira" que ofrecia umha cheia de possivilidades em muitos campos. Antes de que os físicos foram quem de dar umha explicaçom às propiedades destes raios os médicos já a empregravam coma nova, e omnipotente, ferramenta de diagnose: Ver o interior do corpo humano sem ter que intervir cirurjicamente revolucionou a medicina de começos desse século XX que nascia. Passariam anos antes de que os efeitos perniciosos da radiaçom de alta energia foram estudados dabondo como para criar um procedemento fiavel para trabalhar com eles. Mentres os físicos de meio mundo ponhiam a proba a nova radiaçom para conhecer a sua natureza. Experimentavase com diferentes materiais emisores, fiestras de difracçom, objetos irradiados... umha "febre dos Raios X" estendeu-se polas universidades de Europa e América. Incluida a de Nancy na França.

Ali, no Instituto de Ciências Físicas, trabalhava o reconhecido investigador Rene Blondot. A começos de século Blondot experimentava cos raios X modificando os materiais das lámpadas empregradas. Experimentos anteriores noutros laboratorios amosaram que diferentes lámpadas produciam raios X com diferentes poderes de penetraçom. O françês sostenia a teoria de que novos raios, e centos de novas aplicaçons milagreiras, estavam agardando aos experimentadores. Nalgum momento do ano 1903 Blondlot topou o que tanto desexava: Umha radiaçom que tinha o poder de aumentar a luminosidade dos corpos radiantes. O aparelho empregado era umha lámpada de aluminio num contenedor de ferro, cumha fiestra de aluminio. Blondot asegurava que quando esta radiaçom incidia numha lapa de gas ou numha pantaia fluorescente acrecentava a luminosidade observada. No outono desse ano a universide de Nancy facia publico os pormenores do trabalho de Blondot. Ele chamou-nos Raios N, pola univerisade que financiara a sua investigaçom. Nos três messes seguintes as publicaçons especializadas da época encherom-se de dezenas de artigos apoiando as experiências do francês. A meirande partes delas era meras repeticions do seu trabalho pero havia dous reportes que derom o empurre definitivo aos Raios N cara o "estrelato". Um deles polo que nel se afirmava e o outro pola pessoa que o firmava.

O primeiro deles levava o nome de A. Charpentier no titulo. Este era um desconhecido mesmerita, lembrade que na época essa pseudo-ciência era considerada digna de consideraçom, que afirmava que os músculos, os nervos e mailo cerebro emitiam Raios N. Estas propiedades eram melhores ainda que as dos Raios X: Segundo Charpentier a intensidade da radiaçom emitida estava direitamente ligada coa actividade destes tecidos. Os aparelhos de Röntgem ofreciam umha imagem estática, namais que umha fotografia que os médicos ainda estavam aprendendo a interpretando, os de Blondot prometian dar a conhecer o que acontecia nos órganos, em tempo real. O único que precisava o fenómeno era que umha das "vacas sagradas" da época apoiara a teoria. Nesses anos o "principio de autoridade" era mais importante que os resultados experimentais (E hoje nom che vos é mui distinto....). E quando Becquerel, o físico mais repectado desse século que nascia, publicou um trabalho sobre os seus experimentos na propagaçom da nova radiaçom em arames. Ao mesmo tempo outros científicos de igoal ou maior renome publicarom os seus informes com resultados negativos: Lord Kelvin, William Crookes, Otto Lummer ou Heinrich Rubens. Pero o dano já estava feito.


Em meio ano todas as revistas científicas estavam incadas de artigos sobre experiências exitosas. Os editores rejeitavam os reportes negaitvos, argumentado que eram causados "pola pouca habilidade" dos departamentos de investigaçom. Becquerel, Blondlot e Charpentier publicarom decenas de trabalhos falandos das increíveis aplicaçons futuras dos raios. O seu poder de penetraçom era mui superior ao dos raios X, mais se podia controlar para que atravesara so algumhas densidades. Dezenas de materiais forom clasificados como emisores naturales de Raios N, entre eles o Sol. Segundo a teoria construida por Blondlot a nossa estrela os emitia e os corpos da Terra a absorviam para depois liberala: O quartzo e a auga de mar eram os principales armazens naturais. Charpentier segiu coa hipotese "biológica" e afirmou que na sua presença melhorava a resoluçom da vista, que os anestésicos actuavam reducindo a emissom N e que a actividade cerebral podia ser medida meiante eles: Umha prancha fosforescente colocada emfronte a cabeça, devidamente tratada para seres sesivel aos raios milagreiros, permitia conhecer que partes do cérebro trabalhavam em cada intre...

Mentres os científicos que fracassaram em emular o trabalho de Blondlot começarom a suspeitar da veracidade do achado. Namentres muitos aproveitaros unirom-se a comparsa que crescia e crescia: Gustave Le Bon, um físico amateur, asegurou ter descoberto os Raios N sete anos antes que Blondlot. Um médico, o doutor Fabre aseguro que o útero da mulher era também um armazém e que durante o parto as contracçons iam em progressom à emissom. N. P. Audollet , um científico, e Carl Hunter, um espiritista, discutirom a autoria do descobrimento dos Raios N biológicos a Charpentier. A Academia de Ciências Francesa abriu umha investigaçom para dilucidar quem era o pai do fenómeno.

A mesma Academia protagonizou um episodio vergonhante em toda esta histórica: O premio de 1904 foi para as mans de Blondlot pola pressom de Becquerel e Poincaré, em detrimento de Pierre Curie. Isto levantou a meirande parte da comunidade científica francesa a unirse ao movimento internacional que exigia um procedemento público de comprovaçom do trabalho de Blondlot e os seus colegas. Em 1904, no Congreso Científico de Cambridge o tema dos Raios N discutiu-se abertamente, amosando-se que a meirande parte da Comunidade Cientifica mundial era mui esceptica. Heinrich Rubens organizou um grupo de trabalho para levar um pouco de luz sobre o asunto. Robert Willians Wood foi eligido polos seus colegas para pôr em evidência a fraude. Ele era um respeitado físico da universidade Johns Hopkins, conhecido polo seu trabalho no campo da Óptica e a sua afecçom por desenmascarar pseudociências e espiritistas.

Woods chegou a Nancy e entrevistouse com Blondlot. Wood falava um perfeito francês mais empregou o alemao para que Blondlot pensara que podia falar coa sua equipa de laboratorio em privado. Wood estivo presente numha serie de experimentos cos Raios N pero afirmou que nom via rem. Segundo Blondlot uns circulos de pintura fosforescente teriam que brilar com mais força, mais o americano nom notara a diferência. A resposta de Blondlot foi que ele nom era "sensivel dabondo" à radiaçom N. Na derradeira experiência Wood decidiuse e actuou: O francês queria amossar como um prisma de aluminio desviava os raios e os dividia em "quatro raias espectrais" que aumentavam a luminosidade numha pantaia. De primeiras Woods tampouco viu nada, mentres que o resto dos experimentadores afirmavam percever claramente o efeito. Educadamente o inglês pediu que a repetiçom da experiência, e mentres apagavam as luces aproveitou para trocar o prisma de aluminio por outro de ferro, que segundo a teoria de Blondlot bloquearia os Raios N. Mais segundo eles obtiverom resultados favoraveis... Woods deu o troco de novo aos prismas antes de que a luz voltara. Um dos ajudantes de Blondlot suspeitava algo e pediu que se repetira a mediçom, em alemao, mentres ponhia em aviso aos seus colegas das suas suspeitas, em francês. Desta vez Woods nom tocou nada, pero figo soar os seus pasos cara a máquina. Blondlot e os seus ajudantes afirmarom, entre eles e completamente seguros, nom ver nada, acenderom as luces e comprovarom o aparelho. Nestas Woods despediu-se de Blondlot e marchou.

O reporte do americano em Nature, publicaçom que mostrou muito escepticismo ao fenomeno N, ao mes seguinte foi definitivo. Um mês depois publicouse na Reveu Scientifique e deu o golpe de graça aos Raios N. Amosouse que nom eram mais que um fenómeno subjetivo, froito do autoengano. Ninguem duvidou da honradez de Blondlot, um científico respeitavel ata entom, e convertiu-se no maior ejemplo de "Ciência patológica". Blondlot nom queria enganar a ninguem, só estava tam "namorado" da sua teoria e do seu descobremento que inconscientemente colheu só os datos favoraveis. Autocondicionou-se para ver esse "aumento da luminosidade" e contagiou a toda a Universidade de Nancy. O fenomeno expandiu-se pola França por dous motivos principais e nada científicos:

-O enfrentamento coa Alemanha: O trabalho de Rötgen levara a ciência germana ao cumio da populariedade, apoiado pola política do pais de enfrentamento cos seus vicinhos. No clima de enfrontamento de começos de século cumpria resportar ajeitadamente à ascendente ciência germana. As autoridades políticas e científicas apoiavam qualquer projecto que fora quem de aumentar o crédito científico da França.

-O desexo dum descobrimento destas carateristicas: Os Raios N de Blondlot eram geniais. Eram justo o que o mundo pedia à Ciência, um aparelho de diagnose quase omnipotente que permitia conhecer o interior do corpo humano em movimento. Boa de mais para nom acreditar neles. Blondlot adicara anos da sua vida ao estudo das lampadas de alumnio-ferro, nom era quem de de desbotar todo esse trabalho e condicionou-se para ver resultados favoraveis nos seus experimentos.

A Ciência é a única via de achegamento à verdade sobre o mundo na que o ser humano pode confiar, mais só se é Ciência de calidade. Se o proceder é científico, se a mentalidad do experimentador é científica e sempre esceptica ainda quando os resultados som favoraveis, entom faise Ciência de verdade. E nunca, jamais, obteremos verdades infaliveis como as que outras “fontes de conhecemento” (Religiom....) vendem, só inseguridade e dúvida, como dicia Asimov. Para mis val mais essa inseguridade, ou certeça de que algum dia teremos que corrigir o nosso ponto de vista, que a iluminada e fanatica seguridade da Religiom ou das pseudociências. Por isso é importante quer os científicos tenham presentes historias como a de Blondlot, para despegarse emocionalmente das teorias coas que trabalham e assim no prejulgar os resultados...

Esta mensagem de quatro paginas, na que estivem a trabalhar durante um mês, xurdiu da leitura dum texto de James Randi, que evidencia que a historia dos Raios N esta-se a esquezer...

... science does not always learn from these mistakes. visiting Nancy recently and speaking on the sobject of pseudoscience, I discussed this example and though I was in the city that gave the name to N-Rays, no one in the audience had ever heard of them, or of Blondlot, not even the professors from the University of Nancy!

-James Randi

Mais dos Raios N:

http://www.rexresearch.com/blondlot/nrays.htm
http://mikeepstein.com/path/nrays.html
http://www.geocities.com/Area51/Chamber/1922/8030701t.html
http://www.o4r.org/pf_v5n1/Hoaxes.htm
http://encyclopedia.thefreedictionary.com/Ren%E9-Prosper%20Blondlot

 
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