A Biblioteca de Babel (I)
Depois de mais dum mês encerrado baixo terra na
biblioteca volto com mais de um tema na cabeça para comentar no blog... que também é seguro que vos interessa nem um
chisco, mais eu fico mais tranquilo :)
Por
algumha razom que desconheço a
meirande parte dos dias da semana podes colher
dous jornais de balde na
Conce:
La Vanguardia e o
ABC. O primeiro tem um passe, mais o segundo mete medo.
Figem costume de colher o diário
catalam para aforrar uns
ouros durante este mês de mais gastos (e vale, colhia o outro para que
certa pessoa faga os
sudokus...) e sem busca-lo topei um tema interessante do que falar no blog nas suas páginas. O jornal
catalam leva na sua
contraportada umha entrevista diária com algum
pessoeiro ou personagem digno de
interés, um dia destes (magoa de
nom guardar o
ejemplar) cuido que vai uns dez dias,
entrevistarom a
umha "representante" de
umha seita
muito conhecida pola adesons de
famosinhos e
super-famosos nos últimos tempos (e
nom,
nom estou falando da seita católica e da
reconversom da divina
Nicole Kidman): a
Kabbalah (Olho! Ligaçom a página dumha seita, ir com enso).
Adoito a ler
amodinho este tipo de entrevistas, cousa que a minha médica
nom recomenda para úlcera, que
caralho! Se
puidem aturar a leitura do "chuche de
poias mutuo" entre
Gerhard Börner e
Hans Küng (Que por mui crítico co Vaticano é um teista redomado que mete os fucinhos na ciência...) entrevistados por o
Spektrum der Wissenschaft (e publicado na
Scientific American, que supunha
umha publicaçom mais ou menos seria)
umha sectária mais
nom pode fazer muito mal!
Sorpresa desagradável quando às poucas perguntas a representante espeta
umha das principais crenças da sua
religiom: Toda a
informaçom e a sabedoria do universo pode obter-se da
interpretaçom do seu livro sagrado (Neste caso coincidente com a
Thora,
coido que ampliada com alguns textos), mais só se se empregam uns códigos e
umha preparaçom mental que só eles conhecem, como no
O
teminha da sabedoria comprimida no "livro de livros" (.
zip?, .
rar? .
gz nom pode ser, que de trabalharem os deuses em
Linux nom sairiam estas merdas de mundos) é um argumento recorrente nas
religions. Mui
prolíficas nessa teima som as chamadas (manda
truco) "
religions do livro"
cristians,
musulmans e os meus
curmans (judeus). Estes últimos pais da
Kabala histórica (Se
Yosef Karo levantara a cabeça e vira no que convertem o seu engenho matemático clamava aos
Bene Ha Elohim por vingança...). Todos eles argumentam, e em
esto as seitas católicas levam premia a constância, que da leitura e
interpretaçom dos texto
sacrosantosagrados pode-se obter toda a
informaçom e conhecimento sobre e do mundo. Já seja mediante a pura
decodificaçom matemática/lógica/ocultista (a
propria Kabala) ou
umha mais "de letras" centrando-se no significado, todas coincidem em que a "obra divina" da
Biblia contem o reflexo do mundo material e do espiritual nas suas páginas. E dizer, que a
informaçom que representa a enormidade (que
nom infinidade) da Realidade está, dalgum jeito, codificada na relativamente pequena longitude desse texto religioso.
Nom paga a pena
entom romper a cabeça para obter a
informaçom direitamente do mundo cousa que fá a Ciência: o estudo bíblico, a
decodificaçom do contido
acochado por esse deus bom, permite aceder a todo isso...
Qualquera com um pouco de cultura matemática, pouco mais da que teriam os
rapazolos que
figerom vai uns dias a Selectividade, poderia erguer a
mao agora e dizer que isso é
umha parvada.
Nom negaria, nosso hipotético estudante de bacharelato, que essa
informaçom pode estar contida na
biblia, mais o esforço
necesario para "saca-la"
nom compensa o tempo empregado. Pode-se
comprender que os teólogos anteriores ao século ___ tiveram essa teima milenária,
pero desde o
nascemento da teoria da
informaçom moderna argumentar esse tipo de cousas é um pouco parvo. Claro que esse "
conhecemento matemático básico"
nom se
imparte aos estudantes de bacharelato na vida real, e se o
fam é de jeito
tam árido, formal e alongado destas
aplicaçons que
nom calhara na mente dos rapazes.
Faze-lo doutro jeito seria fomentar o pensamento crítico, o racionalismo e a racionalidade e o laicismo, cousa que
nom interessa a
ninguem neste mundo.
Pero pode que me equivoque, e que algum professor de matemáticos em algum instituto da Galiza ou do mundo contara este ano a historia da Biblioteca de Babel aos seus alunos, e por sorte esses poucos jovens tenham as ferramentas (ou armas) que precisa o mundo para
luitar contra a nova época de
escuridade que as
religions traem sobre o mundo. E eu quero pôr o meu
grão de areia e explicar-vos esta pequena "parábola" (por empregar a mesma verbas que eles) que ilumina o chamado "Teorema da
complexidade algorítmica de
Kolmogorov" (Com
colhades medo
polo nome).
A Biblioteca de Babel.Há
milheiros de anos, no reino dos
Dous Rios, na cidade de Babel, onde nasceu a
civilizaçom e a cultura humana e que hoje é um cemitério bombardeado e
espoliado polos filhos da incultura e o ódio, governava um sábio monarca. Este rei de
reitas barbas, babilónico perfil (adjectivo nunca melhor posto) e braços guerreiros tinha no seu
coraçom a real
obsessom de compilar na biblioteca do seu reino todos os livros, e todo o
conhecimento, do mundo.
Empredeu guerras,
gestionou castelos de
naipes diplomáticos, ameaçou,
mercou, roubo e mil cousas mais só para reunir todas as obras escritas na sua época e nas passadas. Contando com que o seu povo era um dos poucos que
descobrira um jeito de plasmar sobre a
argela as palavras e os pensamentos que como
volvoretas voavam das bocas e das mentes
nom foi
umha tarefa mui difícil.
Orgulhoso o rei reuniu a sua corte na biblioteca, diante dos
centos de
tabelas de barro
cheas de apertados
triangulinhos que guardavam o
conhecimento de todo um mundos, e proclamou que povo de
Babilonia era o mais sábio dos tempos, e que na Biblioteca de Babel estava todo o
saber do mundo.
Pero um personagem,
destos que
nom podem faltar
numha historia como mandam os cânones: um
juglar, rachou coa
ledícia do rei. Sem
cavilar muito abriu a boca e derrubou a alegria do momento:
-
Pero nom está todo.
A corte, momentos antes um
rebumbio de festa e felicidade patriótica, calou de
súpeto. O governante,
tam chocado como o resto dos aristocratas (
Pero sabendo dissimilar melhor, que para isso era o rei) fitou de arriba a abaixo ao impertinente e perguntou-lhe, com esse tom cadencioso de quem pode
ordear que lhe cortem o pescoço ao seu interlocutor
cum aceno:
-Que queres dizer?-Que
nom está todo o
conhecimento do mundo.
-
Nom sei se
és parvo ou inconsciente,
pero nom vês que aqui
estam todos os livros do mundo? Que mais
conhecimento há!
-
Pero nom todo o
conhecimento está nos livros!! Há muitas cousas que a gente sabe e
nom as escreve! E há muitas cousas que agora
ninguem sabe
pero dentro duns anos ou duns séculos a gente conhecerá!
O rei calou. A historia
nom conta que lhe passou ao
juglar impertinente,
pero si continua coa profunda tristeza do soberano. Deixou de comer e dormir, convencido agora que nunca passaria as páginas da historia pois os inimigos eram
invatíveis! O Tempo e a Realidade formavam
umha avinça contra os seus desejos de
iluminaçom.
Nom poderia ter agora os livros que ainda
nom se escreveram! E menos aqueles nunca se
escriviriam!!. Passou mês em
jajum,
mentres o seu
cerebro cavilava em
umha soluçom ao seu dilema. E um
bo dia saiu da sua
habitaçom com um sorriso satisfeito no
demacrado rostro. Mandou reunir aos seus conselheiros e deu-lhes as seguintes
ordes:
-
Reunide a cada homem que saiba escrever no meu reino e
encerrade-os na biblioteca.
Dade a cada um
gubia e tabuinha (agora diríamos papel e
lapis...) e este mandado: O primeiro deles escreverá um livro de mil páginas formado só
pola primeira letra do alfabeto repetido um
milheiros. O segundo escrevam fará um livro igual,
agás pola última letra que será a segunda do nosso alfabeto. O terceiro fará um livro como o primeiro,
mais trocará o antepenúltimo símbolo
polo seguinte... Assim até que chegue um momento em um deles escreva um livro com o nosso segundo símbolo ao começo do mesmo e o resto todo primeiras letras.
Entom continuareis o processo,
engadindo mais letras, espaços,
símbolos de
puntuaçom... Ao rematares teremos na nossa biblioteca todas as
convinaçons possíveis das letras que formam os livros, é dizer, todos os livros que as
geraçons futuras escreveram, e também aqueles que se poderiam escrever
pero nom o fariam.
Ficam os membros da corte
abraidos pola ideia e rapidamente o império revolucionou-se para cumprir as
ordes do monarca.
Recrutarom-se todos os homens
disponhíveis e ampliou-se a Biblioteca para poder
gardar os miles de
milhons de
tabuinhas que o
projecto produziria,
vaciarom-se as os
asolagos do
Tigris e o Eufrates para obter o barro
precio.
Ordeou-se todo como mandara o governante e os escribas
começarom o seu gigantesco trabalho.
Passarom os messes, e os anos,
mentres milheiros de livros eram criados baixo a talha das
gubias. Os
bibliotecarios ordeavam volume
tras volume, nada mais sair das
mans dos "escritores". Depois de dez anos de trabalho a
gargantuesca obra rematou:
umha quantidade quase incontável de
terreas páginas
repossavam nos
anaqueis e o rei
ordeou umha festa digna de aparecer
nessos mesmos livros.
Alzando a sua copa no banquete o rei brindou
pola consumaçom do seu sonho,
pero dixo algo que
sorprendeu a todos:
-Grande obra a nossa biblioteca!
Pero inecesaria! - um
rebumbio ascendeu
polas mesas- Para que ocupar espaço com
centos de livros quando todo o
conhecimento do mundo pode ser resumido
numhas quantas frases. Nas
instrucçons que
dim aos meus ministros para
contruir esta maravilha da humanidade está o segredo para criar todo o
conhecimento do mundo, e
polo tanto elas mesmas som toda a sabedoria! O trabalho dos
bibliotecarios é
inútil, pois de nada serve já
gardar os livros!
Passarom os dias e os messes o um dia o rei
reciviu nos seus aposentos
umha notinha que lhe
indicava que os seus
bibliotecarios toparam entre as obras futura
umha deliciosa obra de teatro que escreveria um ilustre galego dentro duns miles de anos.
Perguntando-se que
caralho era um "galego" o rei babilónico
dirigiuse à biblioteca para desfrutar do fino humor da
anonimamente recomendada obra. Chegou a entrada e
cum movimento da sua regia mau chamou ao
bibliotecario chefe e
dixo:
-Escutei falar
dumha obra de teatro cómico que escreverá um tal
Castelao na Galiza, quero lê-la.
-Oh! Sim! - respondeu o velho cuidador de livros,
cum brilho de maldade nos olhos- falamos muito dela entre os
bibliotecarios esta semana, topou-na por c
asualidade um dos mais novos. Indicarei-lhe como chegar: Entre
voçe ao
edificio do O, vaia à â do S entre na
secçom do espaço,
polo pasilho do V
atopará o primeiro giro do E e depois a
sá do L, agora terá que dobrar na esquina do H, até a
habitaçom do O e continuar onde indique o S...... - o velho falou durante horas, dias, quase
umha semana, sendo relevado quando
nom puido mais por outro
bibliotecario, até que o
dézimo deles rematou de
soletrear a obra completa- por último, na
estanteria do F do
anaquel do I colha o livro numerado coa última letra N...
O rei, que
nom interrompeu o desfile de
bibliotecarios dando-lhe
instrucçons comprendeu entom a gralha no seu
razonamento. Na suas "frases da sabedoria" estava toda a
informaçom necessaria para fabricar todo o
conhecimento do mundo,
pero nom para topar o que um buscava... sem conhece-lo antes...
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Bem, como dizia esta historia é um bo ejemplo do "Teorema da complexidade algoritmica de Kolmogorov". Simplificando ao máximo o seu enunciado podemos dizer que o tempo de transferência que aforramos comprimindo umha mensagem o perdemos codificando-a (e decodificando-a no seu objetivo). Todo o mundo comprimiu um arquivo para envia-lo por correio o por um programa P2P, fazemos isto porque a velocidade de transferência da rede é limitada e nom queremos ocupar a nossa conesom enviado esse arquivo. Pero também sabemos que comprimir o arquivo leva um tempo, descomprimi-lo outro e alguem adicou um tempo a programares e instalares o programa no nosso ordenador. Esses tempos estam direitamente relacionados coa diferença de longitude entre o arquivo original e o comprimido, a largura da rede. Ademais, quando maior e a compresom da informaçom mais "grande" tem que ser o programa que codifica e decodifica, mais datos compre ter para interpretar o arquivo.
Umha compressom tam absoluta como a do Rei de Babel (todo o conhecimento do mundo numhas poucas palavras) precisa dumha enorme quantidade de informaçom para poder emprega-la. Fai falha conhecer todo o contido do livro para poder atopa-lo na biblioteca. E nom so o titulo! Co método empregado polo rei crianse milhons de livros co mesmo títulos, algúns so divergen numha letra em toda a obra, outros cotenhem infinitude de convinaçons ao chou, e podemos topar baixo o título da peça de teatro de Castelao a "Guerra e Paz" de Dostoiesky ou umha recopilaçom de chistes de Marianico "El Corto"....
Bom! Até aquí por hoje! Outro dia mais!